Prado ou Terreiro (earthen courtyard)?


 A decisão de semear um prado prendeu-se com a suposta necessidade de travar definitivamente a erosão.

Já apontamos atrás os problemas da solução agora implementada, por alterar, sem necessidade, a verdade do monumento, reduzindo a altura visível dos menires e aumentando a diferença de cotas entre o interior e o exterior do monumento, de origem claramente antrópica e bastante recente.

Porém, manter o "prado natural", sem herbívoros, implica manutenção mecânica recorrente e, evidentemente, continuar a não permitir o acesso ao interior do monumento.

Pondo, em primeiro lugar, o respeito pela autenticidade do monumento, cabe perguntar: 

Prado ou terreiro (earthen courtyard)?

Todos parecem concordar com a ideia de que os Almendres foram, na sua origem, um lugar destinado à realização de eventos públicos. Pense-se, desde logo, na quantidade de pessoas que tiveram que ser mobilizadas para a construção... 

Mário Varela Gomes, que o escavou, refere-o como "um dos primeiros grandes monumentos públicos da Humanidade" GOMES, 1997.

O mesmo que defendi, de outro modo, na Visita Guiada, em 2021...

nesse contexto, parece razoável que o monumento tenha sido, no Neolítico, objeto de manutenção regular, em termos do controle da vegetação.

A primeira intervenção de Henrique Leonor Pina, nos Almendres, foi a eliminação da vegetação; o mesmo aconteceu no Vale Maria do Meio (na imagem).

É claro que a eliminação da vegetação (tal como a reimplantação dos menires) teve, nos dois casos, como objetivo principal, a dignificação do que restava dos monumentos, sem  lhes reduzir a autenticidade, tendo em vista a sua fruição pelo público..




Imagens dos Almendres, com o aspeto que mantém desde a intervenção de Leonor Pina:
um terreiro (earthen courtyard).

A reconstituição publicada na NG: um terreiro (earthen courtyard)

Almendres, versão prado primaveril... bem visível o talude que separa artificialmente o interior do exterior. Nesta imagem, com o prado ainda baixo. 

A solução prado não é desejável, antes de mais, porque descaracteriza o monumento: 
1. ocultando indevidamente parte dos menires 
2. acentuando as alterações paisagísticas resultantes da erosão dos terrenos que envolvem o recinto;
E, para funcionar, exige uma frequente  manutenção e a exclusão dos visitantes, no interior do recinto.
Por outro lado, em termos de custos, para além dos cerca de 40 000 € que custou a operação, até agora, há que contabilizar a manutenção do prado que, indiscutivelmente, não deveria ser feita (como foi no ano passado) fustigando os menires com o nylon da roçadeira e terá que ser feita manualmente, em volta de cada um dos 95 menires... e, se o intervalo entre cada corte for muito longo (como foi no ano passado), os visitantes deixarão de ver parte dos menires, para além de não lhes ser permitido o acesso ao interior do recinto.

A solução terreiro ((earthen courtyard)), mantém, até onde é possível, as características originais do monumento, sem ocultar os menires pequenos, os menires tombados e os fragmentos  de menires, nem acentuar o desnível entre o interior e o exterior do recinto, resultante das lavouras no exterior.
Até recentemente, os espaços públicos, fronteiros às igrejas, aos palácios, à entrada dos castelos, era, por definição, terreiros. Basta pensar no Terreiro do Paço...

Não resisto aqui a introduzir uma piada que circulou no milieu, há bastantes anos: para dar dignidade ao monumento, tendo em vista o turismo, alguém propôs um pavimento de calçada portuguesa...
Certamente kitsch, mas ao menos não impediria o acesso aos visitantes...

A quantidade de terra agora depositada (600 m3) seria suficiente para várias operações de reposição dos solos que, a meu ver, poderiam ser feitas com intervalos de vários anos. Sem mais custos de manutenção, entretanto.

Note-se que a reposição dos solos feita em 2012, que foi um fiasco, desde logo, porque pretendia fazer crescer um prado e não manter o terreiro ((earthen courtyard))... e, por isso, faltou compactar os solos que, soltos, foram água abaixo, nas primeiras chuvadas.
Os solos a depositar devem ser de tipo adequado (não para crescer o prado, mas para aguentar a erosão e o ravinamento).
Obviamente a compactação é indispensável.

Na verdade, a forma mais simples de compactar os solos seria espalhá-los no início do Verão (nunca no Outono) e deixar os turistas fazer o resto...

Finalmente, convém acentuar que a fragilidade dos menires é, em vários aspetos) um mito insustentável... ver mais