Delineando futuros na paisagem

 



Cassandra Querido


Abrindo horizontes

No que se refere a possíveis propostas de intervenção, em termos globais, a

percepção de se tratar de um monumento imponente, o maior da Península

Ibérica dentro da tipologia, a qual é relativamente rara entre os monumentos

megalíticos (corresponde a um período de pouca população, o crescimento

demográfico deu-se a partir daí), esta excepcionalidade deveria ditar uma

abordagem diferente da que usualmente se faz para o comum dos

monumentos e consideravelmente distinta da dos parques temáticos

(usualmente excessivamente artificiais), ou até, da dos jardins históricos,

pois embora apresentando uma dimensão patrimonial de enorme relevo, como

digno representante de estruturas arquitectónicas das mais antigas conhecidas

no país, não apresenta (que se saiba), nenhum elemento, como acontece

com os jardins históricos, que possa orientar uma reconstituição parametrizada,

minimamente fidedigna, nem do espaço do recinto, nem do seu entorno.

Qualquer paralelismo na abordagem implicaria ter de existir, para além

dos monólitos, elementos estruturais identificáveis na função e no período a

que correspondem, como acontece por exemplo com as estruturas de repouso 

e fruição (namoradeiras, alegretes, casas de fresco, bancos de jardins, etc.) 

dos jardins históricos.

Também não há registos gráfico que  sirvam para ajudar à reconstituição.

Assim, o monumento, remontando à pré-história, não facilita a percepção de outras 

utilizações, mesmo que tivessem existido, para além das que se possam inferir da 

leitura dos seus próprios monólitos e da sua relação com os elementos da 

paisagem.

De notar que os resultados das escavações na área, até agora, pouco adiantaram 

relativamente à interpretação da organização do espaço para além de se

ter ficado a saber que mais a nascente haveria mais um sítio arqueológico 

que lhe estaria associado, exíguo, provavelmente de apoio à construção.

Existem, no entanto, relações muito prováveis estabelecidos entre a estrutura 

espacial do monumento e os menires nas proximidades que sugerem direcções

 astronómicas.

Nomeadamente, neste contexto, o posicionamento do menir dos Almendres, 

situado a Nascente do cromeleque,  poderia sugerir indícios para apoiar opções 

numa futura tentativa de recriação do espaço.

Outro elemento importante no terreno a ter em conta é o caminho principal que 

conduz ao recinto, de direcção Norte / Sul e passa por ele do lado poente. É, 

segundo se sabe, bastante antigo pelo facto do cromeleque constituir um ponto 

de referência também antigo (Alto das Pedras Talhas) e de passar no festo, 

onde havia tendência para se estabelecerem os percursos. 

A erosão, que fez dele uma trincheira junto ao monumento, é disso

testemunha.

Foi sugerido que o recinto mais pequeno do conjunto, a oriente, teria servido 

de átrio de entrada ao monumento (Gomes, 1997), o que implicaria a existência 

de mais algum caminho ou de uma simples ligação do outro caminho a poente, 

com o suposto átrio a nascente, o que no terreno não é muito claro.

Em todo o caso, nada que pudesse sustentar a possibilidade da existência

complementar de mais estruturas associadas com alguma função específica.

Sendo assim, acrescentar elementos ou a colocar estruturas ou mobiliário de apoio, 

tendência frequente noutros contextos, tais como bancos de jardim fixos ou elementos 

similares, correm o risco de influírem negativamente na qualidade do conjunto, se 

quisermos manter ou recriar o espaço em redor do recinto com alguma coerência 

e dignidade.

Sobretudo vedações, por muito discretas que possam ser, deveriam permanecer a 

uma distância ou localização suficiente para as ocultar do monumento de qualquer

perspectiva a que seja observado, bem como da sua envolvente paisagística mais

intimamente associada. Isto é, quem ali o vá contemplar deveria poder sentir o

mesmo misto de liberdade e reverência perante a imponência daquelas pedras

que os nossos antepassados sentiram.

Caso no futuro venha a haver absoluta necessidade destas estruturas, por

exemplo, ocorrendo um evento no local, o mais ajustado seria optar por

componentes móveis, sem interferência no solo, leves, em pouca quantidade,

mutáveis na disposição e retirados no final. A matriz do espaço deveria manter-se 

livre de qualquer deles.


A mãe de todas as paisagens

Posto isto, o mais sensato de conceber parece ser uma paisagem

tendencialmente liberta de tudo o que seja alheio aos elementos arqueológicos

e ao Genius loci ali presentes.

Corroborando com esta visão, as cartas do património parecem apontar neste

sentido, através de uma posição de respeito pelo carácter de cada sítio.

A Carta de Florença de 2000 (Convenção Europeia da Paisagem) vai integrar a

paisagem como objecto de protecção, realçando o seu carácter cultural, social

e ambiental (transposto em Portugal através do Decreto nº 4/2005, de 14 de

Fevereiro e pela Portaria nº 389/2005 de 5 de Abril).

Também a Carta de Cracóvia 2000 refere:


“As paisagens como património cultural são o resultado e o reflexo de uma

interacção prolongada nas diferentes sociedades entre o homem, a natureza e

o meio ambiente físico. São o testemunho da relação do desenvolvimento das

comunidades, indivíduos e o seu meio ambiente. Neste contexto, a sua

conservação, preservação e desenvolvimento centram-se nos aspectos

humanos e naturais, integrando valores materiais intangíveis. É importante

compreender e respeitar o carácter das paisagens, e aplicar as leis e normas

adequadas para harmonizar a funcionalidade territorial com os valores

essenciais. (…)”


Uma Zona Especial de Protecção (ZEP) é já um instrumento legal que assegura 

o enquadramento paisagístico e as perspectivas de contemplação de um monumento,

através do ponto 2, do Artº. 43, do Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23 de outubro.

Para o cromeleque dos Almendres, a ZEP foi apresentada através do 

Anúncio n.º 13447/2012 e fixada com base no Anúncio n.º 205/2019, da DGPC, 

Integrar na paisagem um monumento desta natureza deveria ser, também, 

dar-lhe espaço para se expressar num panorama próprio do ecossistema 

local, retratado o mais possível numa fase de começo da sedentarização em que 

o meio seria tendencialmente mais abundante e rico em biodiversidade do que é hoje.

De notar que em redor de alguns cromeleques europeus foram descobertas

outras estruturas pré.históricas, caso do Stonehenge. Além disso, este tem, no

meio de uma planície com pequenas elevações, uma via de circulação

preferencial de desenvolvimento Oeste-Este, the Stonehenge Avenue, com

cerca de 2,4 km alinhada com o nascer do sol no solstício de Verão, para

orientar nesse dia as pessoas em direcção ao monumento.

Nesta óptica, um espaço mais alargado, liberto de vedações permitiria exprimir mais

informação para a leitura da paisagem, e até tornar mais fácil deixar em aberto

novas perspectivas para o futuro dos Almendres.

A abertura do monumento a um espaço mais amplo teria ainda por vantagem

permitir uma maior dispersão dos visitantes, diminuindo assim a pressão sobre

o recinto, particularmente do lado do caminho principal a Oeste do cromeleque

e no próprio caminho.

Para além disso, seria uma hipótese de integrar o conhecimento ligado ao

monumento com mais perspectivas, particularmente, dar mais relevo à

paisagem como elemento de interpretação deste período tão importante no

percurso do Homo sapiens, através do alcance de uma maior verosimilhança

do entorno com as características de uma floresta própria do início da

desflorestação, isto é, do Neolítico Antigo.

Particularmente importante perante o estado degradado observado na

superfície do terreno que se deveu às lavouras efectuadas no sentido do maior

declive, no entorno (lado Norte), muito próximo do monumento, que urgiria

recuperar com métodos regenerativos do solo.


Espaço de tempo e tempo de espaço

Como o contrato de comodato celebrado entre o proprietário e a CME

disponibilizou uma área, bastante exígua de terreno, se compararmos com as

de outros congéneres europeus, seria de se envidar esforços para um

alargamento substancial da área afecta ao monumento, negociando com o

proprietário, como aconteceu com outros monumentos de tipologia comparável

noutros países.

Neste contexto, não deixa de ser importante referir o facto da possibilidade

desta procura de uma aproximação à floresta “ancestral” do início da

desflorestação ser também uma forma, embora pontual, de iniciar, de modo

simbólico, uma acção contrária, de criação de maior biodiversidade, evocando

o retorno a uma composição florística ou fitossociológica mais próxima do que

poderia ter sido numa altura em que, em termos demográficos, a população

tinha valores muito baixos, e haviap menos meios mecânicos para

intervir e alterar o ambiente.

Logo, a sua implementação, actualmente, representaria ajustar o espaço a um

modelo mais sustentável. Isto é, iria, de forma simbólica, aproveitar para

inverter um processo de degradação, que o Neolítico permitiu, e voltar a tentar

recuperar a floresta de antanho com o rigor possível nos dias de hoje.

Ir na direcção desta abordagem seria dar um bom contributo para aumentar a

biodiversidade de forma bastante coerente, uma vez que o espaço está contido

no Sítio de Monfurado, da Rede Natura.

Em termos comparativos (e embora, não seja de esperar algum dia atingir este

patamar), ao contrário da exiguidade dos Almendres, Stonehenge tem perto de

2600 hectares pertencentes ao English Heritage, grande parte aberta ao

público.

Outros sítios pré-históricos como em França, o parc pyrénéen de l'art

préhistorique de Tarascon-sur-Ariège, embora não seja facilmente comparável

por não corresponder ao mesmo período da Pré-história, apresenta-se com 15 

hectares disponíveis.


O princípio da incerteza

No que respeita ao tipo de paisagem presente na altura da construção

destes monumentos, há indícios que apontam para uma floresta, no início do

Neolítico Antigo, mais abundante, com mais quantidade de espécies, maior

densidade e ocupando uma maior extensão do que na actualidade. Quadro

que se manteve enquanto não se fizeram sentir fortemente os efeitos da explosão

demográfica e da alteração da paisagem resultantes da revolução agrícola e

sedentarização.

Também é relevante o facto de, na época, precisamente pela sua transformação 

em agricultor, o homem já estar a alterar a paisagem pela adição, ou 

multiplicação, das espécies utilitárias e alimentares que lhe dariam mais jeito 

ter por perto, muitas delas vindas de longe, nomeadamente do Oriente 

onde começou o fenómeno Neolítico, moldando o meio à sua medida.

Mas, convirá frisar, em redor do cromeleque o terreno seria pedregoso de mais

para facilitar lavouras e sementeiras e assim se manteve até ao século XX.

Existem maroiços de pedras ali muito perto, em redor do monumento,

,na mesma encosta, a nascente do recinto, particularmente notáveis pela 

dimensão que estes amontoados assumem.

Estudos concluíram que a maior parte deve ter resultado das despedregas da

primeira metade do séc. XX (Lynch, 2018). para alargar a área agrícola,

perante um substrato geológico pedregoso, próprio de locais onde predominam

os gneisses.

No Neolítico os povoados existentes perto do local não tendiam a estar nas

zonas altas mais pedregosas e secas dos gneisses, mas sim nos vales graníticos, 

sendo aqui o vale da ribeira de Valverde a zona elegível mais próxima. 

No limite, afigura-se que pela profusão de pedras espalhadas no terreno em

locais próximos do recinto, pode ter havido necessidade de fazer uma

despedrega para facilitar a própria construção do cromeleque, evitando haver

obstáculos à passagem dos monólitos. Embora, logicamente, limitada aos

percursos preferenciais que as pedras tomavam para chegar ao recinto, e ao

próprio recinto, o qual não tem outros blocos de pedra para além dos

monólitos.

A evidência de ter havido transporte explica-se pelo facto dos monólitos serem 

de granito, enquanto no terreno do recinto e na sua proximidade há apenas

gneisses.

Este aspecto, com base na geologia, permite imaginar, para o local, uma paisagem 

bastante mais pedregosa do que a actual, onde seria difícil praticar agricultura 

numa grande extensão, também prejudicada pelo declive e a falta de água nas 

proximidades. Concomitantemente, o possível sítio de apoio à construção 

encontrado perto do recinto evidenciou ter pouca expressão, não sendo de 

esperar a existência de práticas agrícolas com dimensão digna de nota a ele

associadas.

A recriação desta paisagem teria de ter em conta todos estes factores.


Verdes Anos

No que respeita ao conhecimento das espécies vegetais, os estudos sobre 

o período Neolítico Antigo, resultantes de escavações, são muito 

inconclusivos, pois as estratigrafias estão geralmente alteradas pela 

erosão, com algumas excepções como em Sintra, Lapiás de Lameiras, ou 

já bem mais distante, na região da Catalunha no município de Banyoles, La Draga, 

caso único conhecido na Península Ibérica onde a existência de um lago ofereceu

condições excepcionais para permitir um bom estado de conservação dos vestígios.

Nas escavações de Mário Varela Gomes nos Almendres foram feitas recolhas 

que permitiram concluir da presença de algumas espécies, embora, pelas

mesmas razões, os dados sejam muito escassos e imprecisos para 

constituírem uma boa base.

Como muitos géneros e espécies vegetais são transversais a vários estudos sobre 

a mesma época, facilmente se conclui da forte probabilidade de estarem também 

aqui presentes, com os devidos acertos em virtude da flora local.

Assim, as espécies agrícolas mais comuns na altura (com um forte predomínio 

dos cereais), quando presentes no local, pensa-se, não seriam ali cultivadas, mas 

eventualmente trazidas para as proximidades do monumento para a alimentação.

Contudo, tal como os seus antecessores, caçadores recolectores, além das 

espécies cultivadas, utilizariam as muitas espécies autóctones espontâneas e 

comestíveis existentes perto do recinto. Ainda há nos dias de hoje casos 

equiparáveis de utilização das plantas silvestres na culinária alentejana.

Supõe-se que o meio criado seria bastante diversificado para atender às 

diversas necessidades.

Para a produção de corda e tecidos, no que respeita a espécies autóctones

que pudessem estar presentes nas imediações ou serem para ali trazidas 

temos a atabua (Thypha spp), frequente em cotas mais baixas onde se possam

formar pequenas lagoas, a urtiga (Urtica dioica) e o trovisco (Daphne

gnidium) bastante vulgares naqueles contexto, seriam dos mais usados 

para cordas, cestos ou construções.

Também poderia haver sub-produtos do linho (Linum sp.), embora este 

necessitasse de condições muito próprias de cultivo para o seu melhor 

aproveitamento, o que ali, em solo pedregoso, seria difícil, mas poderia tê-las

a cotas mais baixas.

Do mesmo tipo, espécies prováveis de estarem no local para serviriam para os mais 

variados fins, seriam a dormideira (Papaver somniferum), a tanchagem (Plantago 

spp) e a vinha brava (Vitis vinifera). 

Relativamente ao conjunto da composição florística, de notar que estas comunidades 

teriam também, contrabalançando a desflorestação, de dar, de algum modo, 

importância à gestão dos recursos florestais, já que estes, especialmente pela

madeira, passavam a ser muito mais necessários do que anteriormente, para a 

construção de todas as estruturas e instrumentos associados à sedentarização, 

bem como para as fogueiras que permitiam o imprescindível aquecimento no 

Inverno (Ferme, 2014).

Haveria assim espécies que na altura poderiam estar mais presentes, perto dos

povoados, para estarem mais disponíveis, à semelhança do que aconteceu 

mais tarde e é ainda visível nos dias de hoje, com as oliveiras antigas que 

ocuparam a primeira cintura em redor das povoações.

No que respeita às árvores, temos a destacar a importância das tílias que,

pelas suas múltiplas potencialidades, nomeadamente o fabrico de corda para a

qual foram durante muito tempo das mais requisitadas, entre outras funções 

(fabrico de cestos, alimentação e madeira), eram das espécies mais presentes, 

trazidas desde o mesolítico (Herrero-Ota, et al, 2023), e poderiam existir a alguma 

distância, em cotas mais baixas. 

Poderia haver muitas espécies, arbóreas e arbustivas, nativas presentes perto 

do local, úteis para os mais variados fins, que na altura estariam mais

disseminadas, mas que actualmente subsistem apenas nas matas ribeirinhas ou nos 

pequenos bosquetes correspondentes a locais onde foram amontoadas pedras 

ou onde há arrifes de afloramentos rochoso,  que protegeram estes espaços,

e são frequentes na região, em ambiente de montado.

Exemplos disso seriam o pilriteiro (Crataegus monogyna), os adernos 

(Phillyrea spp.), o sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternos), a aroeira 

(Pistacia lentiscus) entre outras (Queiroz e Mateus, 2001) O medronheiro 

(Arbutus unedo), seria outra das possíveis espécies mais usadas (Mateus, 

2001) o que se entende pelas diversas funções a que se presta.

Também poderiam lá estar árvores como o freixo (Fraxinus angustifólia), 

o zambujeiro (Olea europaea var. sylvestris), os pinheiros (Pinus spp.), várias 

espécies de árvores de fruto, sobretudo da família das rosáceas (ameixeiras – 

Prunus spp, pereiras – Pyrus spp. etc.). 

Já a cotas mais baixas, na mata ribeirinha, estariam os choupos (Populus spp.), 

os ulmeiros (Ulmus spp.), os salgueiros (Salix sp), o loureiro (Laurus nobilis), 

o amieiro (Alnus glutinosa), entre outras espécies.

O teixo (Taxus baccata), espécie muito utilizada na confecção de arcos, actualmente 

ausente da paisagem a sul, seria também uma espécie provável, entre muitas outras 

detectadas em vários estudos e pesquisas que se têm vindo a desenvolver sobre este 

período. 

Mas o domínio do espaço seria das quercíneas, como é hoje. Para além dos sobreiros 

e das azinheiras, destacar-se-iam muito mais o carvalho-cerquinho (Quercus faginea

e o carvalho-negral (Quercus pyrenaica).

As quercíneas, mais abundantes na paisagem, eram também, de longe, as

mais utilizadas como material nas construções, como combustível e para a

alimentação (consumo de bolota). Este facto exerceu uma pressão crescente 

sobre elas que as foi reduzindo, sobretudo os carvalhos (Mateus, 2021). 

O mesmo aconteceu com as espécies ribeirinhas, que regrediram 

enquanto se iniciava o aumento das espécies de porte arbustivo, beneficiadas 

pela situação.


Delineando futuros 

As espécies autóctones mais comuns que foram identificadas em diversas

escavações na Península Ibérica encontram-se actualmente frequentemente

representadas nos pequenos bosquetes dos montados, em maroiços e arrifes.

No que concerne os Almendres, entre Oeste e Noroeste do recinto, permanece

um espaço que nunca chegou a ser despedregado, onde subsistem bosquetes

de maior dimensão, testemunhos da biodiversidade, tal como o são as zonas 

com maroiços e arrifes situadas em redor do recinto.

Também as características da paisagem do local, abrangido pelo grupo de 

unidades do Alentejo Central, identificado como montado, embora empobrecido 

relativamente à floresta climácica primitiva da fagosilva (desde há cerca de 12 mil anos), 

evidencia a permanência de muitas das espécies nestes pequenos bosquetes

 remanescentes.

O facto de se incluir na Rede Natura, Sítio de Importância Comunitária (SIC) de 

Monfurado , permite ainda supor a presença de alguns endemismos que terão 

subsistido em comunidades florísticas que se auto-perpetuaram. desde o Neolítico, 

nestes locais.

O Sítio tem contido na sua flora muitas das espécies autóctones anteriormente 

referidas, bem como outras mais que fariam certamente parte do ecossistema da 

paisagem local, com realce para o facto de este ser considerado actualmente o limite 

Sul da área de distribuição do carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e de todas as

espécies associadas àquele enquadramento fitossociológico.


                                      Um dos maroiços situado a nordeste do recinto

                                                                     Maroiço

                                                    Maroiço organizado e alinhado

                                                         Limite sul dos bosquetes


As espécies presentes nestes espaços deveriam servir de base, juntamente com os 

dados arqueológicos, para a reflorestação, reconstituindo uma paisagem mais 

biodiversa, nos intervalos entre bosquetes, isto é, espalhadas entre as azinheiras 

e os sobreiros dominantes.

Muitas das espécies não necessitariam de ser lá colocadas, elas próprias se

encarregariam de se espalhar no local se lhes fossem criadas as melhores condições.

Por exemplo, a sombra do copado acabaria por ser colonizada por um tipo de

vegetação umbrófila de sub-bosque.

Por fim, por uma questão de coerência e de respeito à própria árvore, declarada

árvore nacional de Portugal, e porque nos debruçámos sobre uma época em que

a indústria corticeira ainda não estaria desenvolvida, a floresta “ancestral” que se 

tentasse reconstituir deveria ter sobreiros não descortiçados, sobretudo os mais 

antigos e notáveis, garantindo-lhes assim uma maior, e bem merecida, longevidade.