Os menires também se abatem

 

Quem achar que existia o risco de os menires dos Almendres tombarem, devido à erosão dos solos em redor, deve fazer uma visita atenta ao cromeleque da Portela de Mogos, de fácil acesso e num lugar muito bonito.

             Imagens da Portela de Mogos (2024)

O que vemos neste monumento são as "ilhotas" em volta dos menires, encerrando as estruturas de sustentação (calces) que, num caso ou noutro, são bem visíveis. Fora dessas "ilhotas", o solo foi retirado até ao substrato geológico, no contexto da escavação arqueológica dos anos 90... Nenhum ravinamento teria conseguido um efeito mais radical. 

Porém, os menires continuam tranquilos no seu posto...

Porquê?

Convido a ler um texto de um autor francês, Serge Cassen, que é um megalitista reconhecido, com uma obra notável, sobre os menires da Bretanha, os maiores da Europa.

Sobre a estabilidade dos menires, vejamos as suas conclusões:

"a parte enterrada destes monólitos era pouco importante, representando cerca de 10-15% da sua altura"
No caso dos Almendres, a aplicar-se a mesma ratio, teríamos, para os menires maiores, um enterramento de cerca de 0,40m- 0, 60m.
Mas veja-se o comentário que se segue, feito com algum humor, com base num inegável conhecimento sobre o tema:
"A estabilidade deles resulta mais do peso (gravidade) do que da profundidade a que estão enterrados. A propensão atual, nos trabalhos de implantação de monólitos, para fins experimentais ou de restauro (...), de querer cravar profundamente as bases dos menires para garantir a sua manutenção, é uma preocupação moderna de construtores trabalhando com outros materiais e outras ferramentas." (Bonniol e Cassen, 2009: 695).

É certo que, como todas as obras humanas, os menires vão colapsar, mais tarde ou mais cedo.
De acordo com os dados disponíveis, a principal causa natural (se não a única) da queda dos menires, são os terramotos.
E, no caso dos nossos menires, essa queda foi geralmente gradual: os menires foram-se inclinando até quase à horizontal, sem quase nunca tombarem completamente.
Sobre a forma como os menires colapsaram, nos Almendres, vale a pena ver o estudo do Pedro Alvim:


Mas o fenómeno tinha já sido bem identificado noutros monumentos congéneres, na região, nomeadamente no Vale Maria do Meio, Tojal, Fontaínhas, S. Sebastião, entre os mais importantes.

Menires de Vale Maria do Meio, antes do restauro.

Cromeleque das Fontainhas, antes do restauro.

Convém recordar que a grande maioria ou mesmo, mais provavelmente, a totalidade dos menires dos Almendres foi reerguida, no século XX.
Em algumas estruturas de implantação até foi feita uma sapata em cimento. Se, por acaso, algum menir tombar, não se pode afirmar que o monumento fique propriamente danificado; num caso desses, claro, só havia que recolocá-lo no lugar...mais uma vez.

Alguém, que participou no Processo de Restauro em Curso, afirmou, a propósito, que "o cromeleque dos Almendres é um monumento frágil".
Esta ideia tem ganho adeptos. Porém, convém pensar um pouco sobre o que significa.
Vamos ser claros: o que resta dos Almendres, em termos do conjunto de menires, sobreviveu a 7000 anos de uso e abandono. E foi relativamente fácil de restaurar.
Não parece difícil admitir que, previsivelmente, daqui por 7000 anos, os Almendres continuarão de boa saúde e TODOS os monumentos construídos, em Évora, estarão, na melhor das hipóteses, em ruinas...
Em suma: o Cromeleque dos Almendres é o menos frágil dos monumentos de Évora.


Mas se o risco de os menires tombarem era irrelevante, então não devíamos preocupar-nos com a erosão dos solos...
Pelo contrário, Leia aqui